O novo livro de Sofia Mariutti cria um ambiente, ao mesmo tempo, de cuidado e de ameaça. É um bestiário em que diversas feras estão guardadas dentro de casa, tanto que são habitantes e se tornam indistintas das pessoas que lá vivem.
Por isso, é também um livro dos pesadelos em que o conforto rapidamente se transforma em risco. E as palavras têm sabor concreto e poder quase mágico, porque nomeiam um mundo para torná-lo menos inóspito, ainda que com isso o perigo acabe se tornando mais presente.
Os poemas de Mariutti se entrelaçam, se confundem entre si, para compor este livro que é todo ele uma família. Mas o que é familiar se transforma também naquilo sobre o qual não se pode ter controle. Dinossauros e escorpiões, mães e filhas, o presente e o passado, tudo passa a ser regido por uma mesma lei, a da metamorfose.
No texto de orelha, Chantal Castelli pergunta se o pesadelo do infamiliar não remeteria a um processo em que formas brutais da morte retornam para envenenar as fantasias da intimidade e do cuidado.
Como resposta, cada verso de Mariutti, feito cobra que muda de pele, já sonha a sua próxima forma.