Quem lê os artigos em jornais e revistas que oferecem dicas e soluções para o bem-viver tem a impressão de que os diversos campos da medicina estão à disposição para tornarem as pessoas mais felizes às custas de alguns medicamentos e uma ou outra intervenção cirúrgica. Nas últimas décadas, a partir do lançamento do Prozac, palavras como ?depressão?, ?serotonina? e outras se tornaram parte de nosso cotidiano ? um cenário relacionado com um modelo que busca a felicidade através das sensações corporais e não mais da realização intelectual. Como conseqüência, vivemos um momento de excessiva medicalização da sociedade, onde a psiquiatria biológica se tornou o discurso hegemônico sobre os transtornos mentais, apesar da frágil sustentação teórica desta corrente. A psiquiatria, antes situada na fronteira dos domínios médico, social e moral, encontra-se agora reduzida ao corpo. Em A Psiquiatria no divã, Adriano de Aguiar descreve os modos de funcionamento dos discursos e práticas da psiquiatria contemporânea, marcada pela hegemonia da psiquiatria biológica, procurando entender não o que ela é, mas como ela funciona, quais os dispositivos a que ela se conecta e que novas realidades e subjetividades ela traz. Um estudo instigante que transcende a discussão sobre a clínica psiquiátrica e contribui para a reflexão sobre a sociedade contemporânea.