Yago Martins aplica teorias e análises acadêmicas às observações e vivências decorrentes do período que passou vivendo disfarçado entre os moradores de rua na cidade de Fortaleza.
Yago Martins passou um ano em pesquisa de campo como morador de rua em Fortaleza, no Ceará, tentando se misturar com os sem-teto. Foi essa autoetnografia que o levou a confirmar uma suspeita: enquanto muitos dirigentes de ONGs discursam pelos desvalidos em busca de dinheiro, e ministros religiosos discursam em busca de sucesso e realização, os pobres têm sido usados como tema de congressos, motivo de entrevistas e ilustração de sermões religiosos, mas não realmente ajudados.
Os moradores de rua não são seres que sempre experimentaram circunstâncias extremas e que, por isso, se exilaram: eles já foram o que nós somos hoje; o que falta, muitas vezes, é encontrar quem verdadeiramente os note. Eles não precisam de alguém que dê comida e tire uma foto para as redes sociais, ou de ações públicas e privadas realizadas de cima para baixo, a partir de uma observação da realidade que presume saber do que precisam sem nunca lhes perguntar quais as suas reais necessidades. Em A máfia dos mendigos, Yago Martins apresenta argumentos ousados - e até mesmo polêmicos - para explicar algumas causas da alta incidência de mendicância no Brasil, com base em um ponto de vista do qual poucos partiram: o de quem passou pela experiência da vida nas ruas.