Grande marco do Realismo em Portugal, publicado originalmente em 1875, O crime do padre Amaro é a obra mais polêmica de Eça de Queirós, pois causou escândalo antes de se tornar um clássico. O autor adota um ponto de vista desapaixonado para narrar a história da infeliz Amélia seduzida pelo inescrupuloso padre Amaro. Os seres humanos não são indivíduos propriamente, muito pelo contrário, são temperamentos dominados pelo instinto e pelo meio social, que lhes determinam o modo de agir. Amaro entra para o convento graças à imposição de uma nobre beata. Sem vocação alguma, aceita o seu destino passivamente, mostrando absoluto desinteresse pela profissão que abraça sem entusiasmo e sem amor, e termina pecando contra a castidade, traindo os votos proferidos na sua ordenação. Amélia, educada em um ambiente fervorosamente católico, acostuma-se a viver em um meio hipócrita. O seu amor pelo padre Amaro, pura paixão carnal que a desorienta e destrói, nasce da falta de referências morais e do desconhecimento completo do que seja o amor. Os burgueses, os aristocratas, os políticos, os sacerdotes são os vários componentes de um sistema social decadente e perverso. Com irreverência e sarcasmo, Eça de Queirós tenta resgatar os valores que uma sociedade em declínio havia perdido.