Mais do que revelar invisibilidades, mazelas e complexidades sociais nunca antes manifestadas, a pandemia do SARS-CoV-2 trouxe à tona a imensa fragilidade daquilo que chamamos de civilização. Não obstante, os desdobramentos arrasadores provocados pelo avanço da doença esgarçaram as estruturas vivenciais, às quais estávamos historicamente atados, e revelaram, de forma concreta, as inexoráveis relações de interdependência que regem o tecido social, indo de encontro com a atitude egoística e individualista que tem despontado mais e mais na sociedade contemporânea.
A nosso juízo, de um lado, a pandemia criou as condições objetivas para acentuar a desigualdade social e, do outro, criou as condições para o avanço do capitalismo predatório. A cada dia, pode-se observar que os ricos estão mais ricos e que a elite política concentra cada vez mais o poder em suas mãos, desconstruindo a política de direitos humanos e o próprio tecido social do campo democrático.
Numa leitura dialética da pandemia, observamos como a classe dominante e os detentores do poder se utilizam da situação para benefícios próprios. No Brasil, as políticas de perspectiva genocida e de exploração desvelaram como certos grupos se apropriaram dos recursos públicos destinados aos pobres. Os jornais, publicações e compartilhamentos nas redes sociais desse período são ricos de exemplos nos campos da saúde, da educação e da assistência.