Diziam os grandes livros de leis do Reino das Cem Janelas que a crise, quando surgia, era para todos. Ou seja: se faltava comida na mesa do ferreiro, também faltava na mesa do juiz se entrava água na casa do pedreiro, também entrava na casa do físico da corte.Nem sequer o rei escapava à força da lei e, por mais de uma vez, em invernos rigorosos, sua majestade, o rei Tadinho, foi visto durante a noite pegando tudo o que era balde para pôr nos cantos do palácio onde chovia como na rua.Os habitantes do Reino das Cem Janelas deveriam chamar isso de democracia, mas não chamavam, porque nunca tinham ouvido falar dos gregos nem das suas complicadas teorias. Para falar verdade, os habitantes do Reino Cem Janelas só tinham ouvido falar de si próprios, e estavam mesmo convencidos de que o mundo começava onde começava o reino, e acabava exatamente no local onde uma tabuleta dizia: Você acaba de deixar o Reino das Cem Janelas, somos gratos por sua visita.