Em Roma, no final de 1990, uma jovem de dezesseis anos se prepara para sua primeira festa de Ano-Novo. Ela não sabe que nesta noite se cumprirá o destino que pesa sobre toda sua família: enquanto a televisão noticia com urgência a guerra civil que eclode na Somália, o Jirro entra em sua alma para nunca mais abandoná-la. Espécie de doença e maldição, Jirro é a palavra somali que nomeia o mal causado pelo trauma do desenraizamento, algo que habita todos os sujeitos que vivem na diáspora. Em Cassandra em Mogadício, Igiaba Scego, filha de imigrantes exilados na Itália durante a ditadura de Siad Barre na Somália, mistura seu italiano de origem com os sons da língua somali para compor ao mesmo tempo uma carta a uma jovem sobrinha, um relato histórico, uma genealogia familiar e um laboratório alquímico no qual o sofrimento se transforma em esperança graças às palavras. Este romance envolvente nos revela como acontecimentos do mundo nos constituem intimamente e une o que a história gostaria de separar: seu avô, intérprete do General Graziani durante os anos infames de ocupação italiana na Somália; seu pai, diplomata e homem de cultura; sua mãe, criada num clã nômade e então engolida pela guerra civil; as humilhações da vida como imigrantes em Roma nos anos 90; a falta de uma língua comum numa grande família espalhada entre diferentes continentes; uma doença que dia após dia sequestra a humanidade dos olhos. Como uma Cassandra moderna, Igiaba Scego faz da visão turva pela dor uma lente benevolente sobre o mundo, escrevendo um grande romance sobre nosso passado e nosso presente e que celebra a irmandade, a possibilidade de perdão, cuidado e paz.