Todos os dias, na cidade do Porto, passo pelo cárcere onde Camilo Castelo Branco escreveu este Amor de Perdição. Olho para as grades e imagino o autor, algures em 1861, escrevendo em apenas 15 dias o mais alucinante texto do romantismo português.
George Steiner tinha razão: as grandes tragédias só são possíveis em sociedades aristocráticas, onde os indivíduos valem menos do que a força implacável das tradições e dos preconceitos. Shakespeare sabia disso. Camilo também. No amor funesto de Simão e Teresa, os dois personagens centrais do livro, encontramos a mesma rebeldia de Romeu e Julieta contra os deuses terrenos da família e da moral. Mas encontramos mais: a rebeldia do próprio Camilo, também aprisionado por delito de amor.
A biografia de Simão, escrita a golpes de desespero e insânia, é a autobiografia de Camilo.